Estamos Condicionando Nossas Crianças a Serem Consumidoras?
- Evandro Kafka
- 4 de jul.
- 2 min de leitura

Dias atrás, durante uma de nossas aulas, vivi uma daquelas situações que fazem a gente parar e refletir profundamente sobre o que estamos ensinando e não estou falando apenas do conteúdo da aula.
Um dos alunos trouxe um brinquedo que ele tinha ganhado com muito orgulho: um Labubu, (leia mais sobre ele aqui) aquele personagem de olhos grandes e sorriso travesso que virou febre nas redes sociais e vitrines de lojas. Mas algo inesperado aconteceu. Logo que mostrou o brinquedo, ele foi ridicularizado pelos colegas. Disseram que o Labubu dele era falso. Que o “de verdade” vinha com uma embalagem específica, tinha um tipo de textura, e até um cheirinho que o dele não tinha.
A criança, visivelmente constrangida, veio até mim e perguntou com a maior sinceridade do mundo:“Professor, meu brinquedo é pior porque ele é falso?”
Aquilo me travou. O que responder a uma criança de 8 anos que só queria mostrar algo que gostava, e recebeu como resposta um julgamento baseado em status de consumo?
Essa cena me acompanhou nos dias seguintes. E ficou uma pergunta martelando na cabeça:O que estamos ensinando às nossas crianças?
Quando o Brinquedo Vira Sinal de Valor
Não é só sobre um boneco. É sobre o valor que estamos condicionando as crianças a atribuírem às coisas e a si mesmas.
Estamos cercados por uma lógica de consumo onde tudo precisa ser o “original”, o “lançamento”, o “mais caro”. E essa lógica tem escorrido para a infância com uma força preocupante. Crianças pequenas já sabem o que é um "falso da Shopee". Já falam em "edição limitada", "versão premium", "influencer que lançou", como se isso fosse parte do mundo delas e, infelizmente, está sendo.
Mas... quando um brinquedo deixa de ser algo para brincar e passa a ser um símbolo de prestígio, o que sobra da infância?
Educação que Liberta ou Que Condiciona?
A missão da RobotBox sempre foi ir na contramão disso. Quando criamos kits que as próprias crianças montam com as mãos, que envolvem imaginação, engenharia, tentativa e erro, não é apenas sobre robótica. É sobre reconectar o valor da experiência ao invés da posse.
Queremos que a criança se orgulhe do que cria, não do que compra. Que ela aprenda que valor não vem de etiqueta ou holograma dourado, mas de esforço, curiosidade e construção.

E o que respondemos ao menino do Labubu?
A resposta foi simples, mas necessária:"O que importa não é se ele é original, é se você gosta dele. Isso já faz dele especial."
Mas a resposta verdadeira precisa vir de todos nós, pais, professores, escolas e marcas. Precisamos urgentemente revisar os valores que estamos passando. Se não, corremos o risco de formar crianças que, antes mesmo de saber quem são, já sabem o que precisam ter para se sentirem aceitas.
E isso não é sobre brinquedos.É sobre identidade.É sobre autoestima.É sobre o tipo de adultos que queremos ajudar a formar.
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